O Trauma: Perturbação de Stress Pós-Traumático

Ao longo da vida todos experienciamos acontecimentos potencialmente traumáticos. Estes eventos podem ser diversas coisas, mas normalmente concentram-se nos seguintes stressores (DSM-5):

  • Agressão física;
  • Combate;
  • Agressão e/ou abuso sexual;
  • Acidentes graves (trabalho, viação, domésticos, etc);
  • Desastres naturais ou provocados pelo homem (sismos, erupções, maremotos, ataques terroristas, guerra, etc);
  • Acidentes médicos;
  • Violência doméstica;
  • Sequestro;
  • Exposição à morte ou a ferimentos mortais;
  • Tortura;
  • Outros.

Estes acontecimentos de vida, entre outros, podem levar ao desenvolvimento de doença mental, como a Perturbação de Stress Pós-Traumático (PSPT – ou PTSD em inglês). Existem outras, das quais falaremos em artigos futuros.

PSPT | PTSD

A perturbação de stress pós-traumático apresenta vários sintomas, que podem ser (DSM-5; ICD-11):

  • Memórias angustiantes, recorrentes, involuntárias e intrusivas do que aconteceu;
  • Sonhos perturbadores (pesadelos) sobre o que aconteceu;
  • Flashbacks;
  • Sintomas de evitamento:

o Evitar o local onde aconteceu;

o Evitar pessoas;

o Evitar conversas;

Exemplos: Alguém que tem um acidente evita conduzir; Alguém que foi agredido na rua evita passar novamente pelo local ou até mesmo sair de casa;

  • Culpa persistente (em relação à causa do trauma);
  • Estado emocional negativo persistente;
  • Desapego;
  • Alterações marcadas na excitação e reatividade:

o Comportamento irritável ou explosões de raiva;

o Comportamento imprudente ou autodestrutivo

Exemplos: Sexo inseguro; Condução imprudente; Comportamento suicida;

o Hipervigilância

Exemplos: Verificação compulsiva; Necessidade de se posicionar de forma a ter sempre um ponto de fuga; Incapacidade de se sentir seguro;

o Problemas de concentração;

o Reações de sobressalto exageradas;

o Dificuldade em adormecer, permanecer a dormir e/ou sono agitado;

  • Prejuízo no funcionamento quotidiano.

Podemos também perguntar-nos: “Porque é que algumas pessoas desenvolvem PSPT e outras não?”

Existem vários fatores de risco.

  • Fatores Pré-Trauma:

o Exposição prévia a outros traumas;

o Género feminino;

o Experiências adversas na infância (isto dá outro testamento);

o Problemas psiquiátricos pré trauma;

o Niveis de escolaridade e socioeconómicos mais baixos;

  • Fatores Peri-Trauma (do próprio trauma ou durante o trauma):

o Gravidade do acontecimento traumático;

o Ameaça à vida;

o Sentimento de impotência, imprevisibilidade ou incontrolabilidade associado ao acontecimento;

  • Fatores Pós-Trauma:

o Menor nível de suporte social;

o Exposição a novos traumas;

o Exposição a eventos de vida stressantes após o trauma (não traumáticos, ou seja, eventos normais da vida que possam ser stressantes – por exemplo mudar de trabalho, término de relações, exames, etc -, quando ocorrem após um evento traumático podem aumentar o risco de PSPT).

Esta psicopatologia e os sintomas associados afetam em grande medida a pessoa no seu funcionamento normal. Na minha experiência de investigação e clínica já acompanhei vitimas de violência doméstica, abuso sexual, entre outros, que têm estes problemas ao longo de anos e que vivem com eles sem procurar qualquer tipo de ajuda. A intervenção psicológica, com profissionais qualificados (psicólogos e psiquiatras) funciona e melhora muito a vida da pessoa. Às vezes só o conseguir dormir mais uma hora ou duas já é um enorme aumento na qualidade de vida.

E atenção. Procurar ajuda não significa que a pessoa seja fraca ou que não consiga lidar com as coisas sozinha.

Por fim, esta patologia não acontece apenas em veteranos de guerra, como muita gente pensa. Estima-se que cerca de 7% da população portuguesa tenha sintomatologia associada a eventos traumáticos, o que representa uma assustadora fatia da população.

Dr. André Moreira

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