Autismo: Moda ou Realidade?

A Perturbação do Espetro do Autismo (PEA), consiste numa perturbação do desenvolvimento, caracterizada por um défice global em três áreas: interação social, comunicação e comportamento. Afeta aproximadamente 1 em cada 44 pessoas segundo o Departamento de Saúde dos EUA, já havendo dados do Centro de Controlo de Prevenção e Doenças mais atualizados (dezembro de 2021) que apontam para crescimento de 22% na prevalência do autismo, 1 em 36 indivíduos[RS1] , traduzindo um aumento de mais de 240% desde o ano de 2000, onde a prevalência era aproximadamente de 1 em cada 150 indivíduos.

Provas Mais Fidedignas e Profissionais Capacitados

É importante ter em conta que as PEA são identificadas através de comportamentos clinicamente observáveis e quantificáveis, havendo duas provas que são complementarmente reconhecidas como sendo as mais eficientes para quantificar esta observação clínica. A ADOS – Autism Diagnostic Observation Schedule, realizada com a própria pessoa e a ADI-r – Autism Diagnostic Interview-Revised que é dirigida a um familiar ou a um cuidador.

A junção do resultado destas provas com os dados provenientes da observação clínica, permitem um diagnóstico mais eficaz. Relembrando que só pode aplicar estas provas quem tiver certificação para tal.

Desta forma percebemos dois pontos que influenciaram o aparente aumento dos casos de autismo na população mundial, a existência de provas mais fidedignas para despiste de PEA e ainda um maior número de profissionais capacitados para o diagnóstico.

Ampliação dos Critérios de Diagnóstico

Outro ponto interessante é que, com os novos critérios de diagnóstico do DSM-V, o Síndrome de Asperger foi incluído no Espectro do Autismo, sendo considerado Autismo de Grau I, definido como o mais ligeiro.

Temos também de ter em conta várias coisas.

– Que existem 3 tipos de classificação no Espectro (Grau I, Grau II e Grau III) que variam consoante a gravidade e a severidade dos sintomas apresentados e pelo grau de suporte que necessitam.

– Que os diagnósticos devem ser feitos por inclusão e não por exclusão, o que significa que não é necessária presença de exatamente todos os indicadores de uma PEA, para haver um diagnóstico.

Isto leva-nos à ampliação dos critérios de diagnóstico, mais um motivo para o crescente número de diagnósticos de autismo.

 

Consciencialização do Autismo

O Autismo também começou a ser cada vez mais falado, trazendo mais informação à população e havendo mais iniciativas de educar e sensibilizar os que, até recentemente, ainda viam o Autismo como um bicho-papão atormentador. Isto fez com que houvessem mais sinalizações dos casos de potencial diagnóstico, tornando-se assim mais um fator que influencia diretamente o número de diagnósticos.

Pais Mais Atentos Aos Sinais

Não podemos esquecer-nos dos Pais! Pelas mudanças geracionais e sociais, passaram a adotar outra perspetiva relativamente às dificuldades e problemas dos seus filhos, valorizando mais os sinais relacionados com o desenvolvimento e a saúde mental das crianças. Isto levou a uma maior procura por soluções e por respostas especializadas. Somando-se aos anteriores motivos responsáveis pelo aumento dos casos de autismo.

Moda ou não?

Não! Autismo não é moda!

Autismo é a realidade de muitos de nós, uma realidade que tem que ser afastada de preconceitos, medos ou de ideias erradamente formatadas.

Devemos sim conhecer quem está na Perturbação de Espectro do Autismo, compreendê-los e aproveitar para aprender o que eles têm para nos ensinar!

 

Dr. Ricardo Ribeiro Silva

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